quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

HINO NACIONAL - Símbolo, memória e resistência cultural

A pátria de Pedro Buno

É de conhecimento de muitos o ocorrido a alguns meses com a cantora Vanusa, quando a mesma se viu em constrangedora situação demonstrando total desconhecimento tanto da letra quanto da música do Hino Nacional Brasileiro. me vi mais uma vez tocado por um profundo descontentamento por ver mais uma vez lançado sobretudo nas camadas privilegiadas da sociedade brasileira uma discussão visando a proposta de alterações na letra de um de nossos símbolos nacionais. Um outro motivo que me leva a escrever é o marco histórico citado por poucos que observa que a letra do Hino Nacional Brasileiro está fazendo cem anos neste ano de 2009.

Nosso Hino Nacional Brasileiro é tido por diversos arranjadores e regentes clássicos como um dos mais belos do mundo por sua riqueza melódica e rítmica bem como suas genialidade orquestral. Algumas propostas de substituirão da melodia já foram feitas anteriormente e até mesmo um grande festival de música em janeiro de 1890 foi realizado com essa finalidade. Todavia, com se pode perceber em edição do Jornal do commércio à época, “o povo preferia o velho”, referindo-se a manutenção da orquestração de Francisco Manoel da Silva.

A letra, por sua vez, remonta uma época em que a poesia era vista como um tipo de retrato escrito da personalidade do escritor, tendo sempre a língua pátria como parceira, ainda que diversas versões tenham sido criadas regionalmente, por falta de uma unidade no discurso voltado ao nacionalismo ao qual se propõe tal obra, até que em 1909 Osório Duque Estrada compôs a versão tomada como definitiva tanto por governos como pelo povo em geral, até que no inesquecível ano de 1922, Epitácio Pessoa ratificou oficialmente essa versão da letra como definitiva.

Costumo dizer que nos dias corridos de hoje, as pessoas chegam ao cúmulo de identificar os ônibus apenas pela cor, sem ao menos se darem ao trabalho de ler o letreiro. Ao escrevermos no MSN por exemplo, somos minimalistas e relaxados com os critérios da linguagem que aprendemos. Quem lançar um olhar atento sobre a letra, perceberá a genialidade do autor ao descrever aspectos do país em duas belas estrofes.

A primeira Estrofe descreve o fato histórico da proclamação da república, sem exaltar a pessoa do monarca, que representava um vínculo que se pretendia desfazer, sem contudo deixar de ressaltar a relevância do momento. A tônica desse apelo ufanista está na altiva frase “Ó PÁTRIA AMADA,
IDOLATRADA, SALVE! SALVE!”, as segundas partes tanto da primeira quanto da segunda estrofe citam os outros Símbolos Nacionais (a bandeira e o brasão) em suas formas e cores em seus significados, sendo a segunda estrofe uma interessante descrição do mapa do Brasil, inteligentemente ilustrado como “florão da américa”, em seu verdadeiro formato de buquê de flores.

Bem. Como desafio a uma viagem por dentro dessa bela composição musical, segue abaixo a letra com um glossário, para que você também se sinta desafiado a entender melhor a riqueza de nossa língua antes de concordar em acomodar nosso símbolo de grandeza à mesquinhez cultural de uma minoria.



Vocabulário (Glossário)

Plácidas: calmas, tranqüilas
Ipiranga: Rio onde às margens D.Pedro I proclamou a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822
Brado: Grito
Retumbante: som que se espalha com barulho
Fúlgido: que brilha, cintilante
Penhor: garantia
Idolatrada: Cultuada, amada
Vívido: intenso
Formoso: lindo, belo
Límpido: puro, que não está poluído
Cruzeiro: Constelação (estrelas) do Cruzeiro do Sul
Resplandece: que brilha, iluminidada
Impávido: corajoso
Colosso: grande
Fulguras: Brilhas, desponta com importãncia
Florão: flor de ouro
Garrida: Florida, enfeitada com flores
Idolatrada: Cultivada, amada acima de tudo
Lábaro: bandeira
Ostentas: Mostras com orgulho
Flâmula: Bandeira
Clava: arma primitiva de guerra, tacape

(Fonte: A História dos Símbolos Nacionais, de Milton Luz. Fundação da Biblioteca Nacional - Ministério da Cultura)